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Educação sexual: como conversar com crianças e adolescentes?

 

 
A expressão "Educação Sexual" pode assustar alguns pais. Isto dá-se porque o despertar para a necessidade de abordar o tema com os filhos é relativamente recente. Era incomum os pais falarem abertamente com os filhos sobre o seu corpo e muito menos sobre a sua sexualidade. Por outro lado o assunto "sexo" continua a ser rodeado de muitos tabús. 
A educação sexual é uma necessidade,  é uma forma de proteger os miúdos e deve começar bem cedo. Quão cedo? Desde sempre. A forma como tratamos o bebé, como mostramos respeito pelo seu corpo é uma forma de iniciar essa educação. Uma troca de fralda, um banho podem ser muito mais do que isso. Podem ser oportunidades para lhe irmos ensinando conceitos básicos como respeito, intimidade e consentimento. Esse ensino pode e deve continuar até à adolescência.

Ao preparar este post percebi que muitos pais ainda esperam pelo momento ideal para ter a tal conversa. Não existe uma idade certa para iniciar a conversa e nem esta deve ser única. A educação sexual deve ser uma aprendizagem gradual que deve acompanhar o desenvolvimento da criança. 
 
É muito importante que os pais tenham uma postura pró-ativa. Um dos pilares da Parentalidade Positiva é justamente a Parentalidade Pró-ativa. Pressupõe que os pais se preparem para ajudar os seus filhos nas diferentes fases do seu desenvolvimento. Sejam pró-ativos, preparem-se, estudem se necessário, percebam as vossas fragilidades e saibam o que esperar em cada fase e quais as respostas adequadas em cada uma delas. E o que pode ser abordado em cada fase?

Dos 0 aos 4 anos

Desde bem cedo é possível ajudar a criança a conhecer as partes do seu corpo. Há uns dias ouvia num podcast a autora a falar daquela música para crianças "cabeça, ombro, joelhos e pés" e ela perguntava e muito bem onde tinham ido parar as outras partes do corpo. Saltamos dos ombros para os joelhos... Dá que pensar, não dá? Assim como ensinamos o nome de outras partes do corpo como as mãos, pés, cabeça, nariz... podemos ensinar como se chamam as suas partes íntimas. É claro que podem usar nomes familiares. Mas porque não os científicos também. Vagina, vulva, pénis, testículos não são palavras mais difíceis que orelha e coração. Ele fica a conhecer o nome das partes do seu corpo e passa a perceber que tem partes íntimas (genitais e não só), que são só suas. Ninguém (criança ou adulto) tem o direito de tocar nelas. É importante que ensinemos isso à criança e ainda o que ela deve fazer caso alguém o tente fazer. 
E aqui vale a pena refletirmos como estamos a ensinar a criança a respeitar o seu próprio corpo. Por exemplo, será que respeitamos quando ela diz que não quer dar um beijo ou abraço a alguém? Será que mostramos que a respeitamos por lhe dar alternativas a esses beijos e abraços ou forçamos a criança a fazer o que não quer? 

Nesta fase é normal as crianças tocarem nos órgãos genitais. Como reagem quando o faz? A forma como nós adultos reagimos é muito importante. Não ralhem, não digam que é nojento e muito menos batam na criança. Podes simplemente ignorar o que viste e direcionar a atenção da criança para outra atividade ou explicar que deverá fazê-lo em privado.

Até aos 4 anos a criança já deverá saber de onde vêm os bebés. Nesta fase não precisam de respostas muito detalhadas. Normalmente ficam satisfeitas com respostas curtas e simples. Se perguntarem de onde vêm os bebés podemos dizer que vêm da barriga da mãe, explicar que o pai colocou uma semente na barriga da mãe(e dar o nome dessa semente - espermatozóide) que começou a crescer dando origem ao bebé.


Dos 4 aos 9 anos
 
É possível e desejável que surjam questões mais específicas nos anos que se seguem. É possível que agora que já sabe de onde vêm os bebés, pergunte como o pai conseguiu pôr o espermatozóide dentro da barriga da mãe e o que são relações sexuais. E se estiverem preparados podem responder com a maior naturalidade que relações sexuais é uma forma muito especial de dois adultos estarem juntos, que o pénis do pai entrou dentro da vagina da mãe para lá deixar o espermatozóide. Podem perguntar ainda quantas vezes os pais o fizeram e é uma excelente oportunidade para acabar com a ideia de que os pais só têm relações sexuais para terem filhos. :) Optem por respostas simples e honestas. As crianças precisam de respostas mas não necessariamente de respostas muito detalhadas.

Mas ao dar estas explicações não estarei a "dar ideias" ao meu filho? Não, pelo contrário. Ao dar explicações ensina ao seu filho, por exemplo, que crianças não têm relações sexuais, seja com outras crianças, seja com adultos. Ao falar sobre sexualidade vai ajudar o seu filho a perceber que existem tipos diferentes de toque - toques agradáveis e os toques que podem deixá-lo desconfortável.

E se não fizerem perguntas? Não esperem que as façam. Falem vocês. Comprem livros infantis sobre o tema e comecem a abordar o tema sem exagerar na informação. Elas vão procurar essa informação de qualquer forma e se não a encontrarem junto dos pais é muito provável que a procurem no Google ou junto dos colegas. Infelizmente nenhuma das duas opções é boa.


Mais de 9 anos

Nesta fase podemos falar sobre o que esperar com a chegada da puberdade e a adolescência. É útil e desejável que aprendam sobre o que acontece também com o sexo oposto. Abordem temas como menstruação, masturbação, contraceção, doenças sexualmente transmissíveis, etc. Conversem sobre afetos, sobre relacionamentos. Falem sobre limites e consentimento. Sabes o que é e o que implica? E o teu filho? 
Aceitem as questões deles com agrado e respondam de forma honesta. Ao contrário do que muitos pensam conversar abertamente sobre sexo com os pais resulta num adiamento da iniciação sexual por parte dos jovens. Pessoas esclarecidas tomam melhores decisões. Por isso, apostem numa boa comunicação e continuem a trabalhar o vínculo com os vossos filhos. Se o fizerem estarão criadas as condições ideais para que vos procurem para colocar as suas dúvidas sobre sexualidade e não só. 






 

 

 

 

 

 

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